Roberto Policiano

17 de jan. de 2011

Zona Proibida



É o ano 2987. O planeta Terra está bem diferente. Em virtude do aquecimento global as calotas de gelo polares derreteram-se, fazendo com que novas terras se tornassem disponíveis para a humanidade. Em vista disso a nação que domina o mundo é a Finlândia. Sua rainha se tornou a mulher mais poderosa de todos os tempos. O avanço tecnológico permitiu que os terráqueos visitassem outros planetas, não só do Sistema Solar, nem tampouco apenas da Via Láctea, mas de várias galáxias. Muitos planetas habitados foram descobertos, e o contato com outros povos tornou possível o acesso a novas tecnologias e materiais até então desconhecidos pelos habitantes de nosso planeta. O problema da falta de água foi resolvido quando foram localizados vários planetas que nada mais são do que depósitos inesgotáveis de água. É comum espaçonaves tanques, capaz de conduzir bilhões de litros de água, cruzarem a atmosfera terrestre. Foi isso que salvou grande parte da África, das Américas da Ásia e do Oriente Médio, que se tornaram o celeiro deste planeta. Já não se vê mais carros nem qualquer outro meio de transporte circulando na superfície da Terra. Os veículos, no entanto, continuam, numa quantidade jamais imaginada, a serem visto em toda a parte, só que agora no espaço aéreo. As ruas transformaram-se em imensas plantações, que são cuidadas em sua totalidade por robôs de diversas formas e tamanhos diferentes. A população atual é de cerca de quarenta e cinco bilhões de pessoas. As viagens intergalácticas é um procedimento comum. As casas deixaram de existir a muito tempo. Grandes conglomerados habitacionais flutuantes substituíram as antigas moradias. A rainha finlandesa, Sua Majestade Genoveva XVII, comanda a maior potência financeira de todos os tempos. Grandes frotas de espaçonave mercantes cruzam os céus do planeta diariamente trazendo e levando preciosos produtos, tornando a Finlândia uma nação cada vez mais rica. Com nova tecnologia e novos combustíveis adquiridos de habitantes de planetas de outras galáxias, as espaçonaves conseguem viajar a uma velocidade várias vezes maior do que a velocidade da luz. ‘Túneis de Vácuo’, que por séculos foram confundidos com buracos negros, foram descobertos pelos Astrônomos, o que permitiu viagem entre as galáxias com duração de apenas alguns meses. Descobertas promissoras apontam para a possibilidade de que tais viagens sejam realizadas em apenas um quinto desse período. Tudo isso contribuiu para a troca de experiências e tecnologia entre diversos povos cujos indivíduos, diferente do que se imaginava antigamente, pouco tinham de diferentes dos terráqueos, tornando impossível, nas convenções que aconteciam com regularidade, tanto no planeta Terra como em outros lugares do universo, distinguir a origem dos presentes a menos que os mesmos se identificassem. A expectativa de vida dos humanos ascendeu muito nos últimos trezentos anos, a ponto de ser comum encontrar pessoas em pleno vigor físico e mental com seus quase quatrocentos anos de vida. Muitos súditos servem Sua Majestade já por décadas. Entre eles figuram Nygerym e Kalcasyna, engenheiro e engenheira de viagens intergalácticas da mais alta confiança da rainha. Em uma de suas missões, cujo objetivo era estabelecer comércio com povos de planetas de certa galáxia distante, os dois experimentavam novas rotas de viagens através dos ‘túneis de vácuo’ ainda não trafegados por espaçonaves usadas pelos terráqueos. Eram comuns expedições de exploradores com o objetivo de descobrir novos caminhos, mas este não era o caso dos dois servidores. Mesmo assim, em determinado momento da viagem, os dois depararam com um destes túneis que não estavam registrados no ‘plano de rotas possíveis’, documento muito usado pelos viajantes intergalácticos. Como a missão previa tais possibilidades, eles resolveram conhecer esta parte do universo ainda não catalogada, pois não havia nenhuma informação que outros povos conheciam aquele lugar.
Depois de uma viagem de três semanas explorando o novo caminho os viajantes se depararam com um sistema planetário totalmente incomum, assim, resolveram investigar um de seus planetas. O que eles viram é indescritível. Era tão espetacular e singular que era difícil para eles acreditarem no que se apresentava diante deles naquele ambiente tão especial. Foi uma experiência única para ambos. Jamais, tanto na vida do Nygerym quanto na da Kalcasyna, aconteceu algo tão fantástico. Uma emoção, ainda não sentida por nenhum dos dois, alcançou a cada um dos viajantes. Era como se o planeta os convidasse a permanecerem naquele planeta exuberante para sempre. Plantas e animais, totalmente desconhecidos por todos os povos que mantinham contato com os terráqueos, exibiam sua beleza, cor, forma e perfume. Os dois engenheiros exploraram todo o planeta num período de três meses, mas não encontraram nenhum habitante inteligente que pudessem manter contato. Quanto mais permaneciam ali, mais a emoção dominava a cada um deles. A vontade de permanecer naquele lugar era imensa, mas havia a lealdade à Sua Majestade que os impediam. A luta entre ficar ali e reiniciar a viagem era enorme. Um misto de sentimentos conflitantes atormentavam cada um deles. Embora embevecidos pela emocionante experiência, a lealdade à rainha por fim prevaleceu e os dois, cabisbaixos, abatidos e sentindo-se eliminados por dentro, resolveram deixar o lugar e seguir viagem. O restante da missão foi tão triste e sem graça que não faz sentido comentar.
Três anos depois, com um acordo comercial bastante interessante em sentido financeiro e tecnológico, os dois se apresentaram à Sua Majestade, a rainha Genoveva XVII, que, como reconhecimento pelos serviços prestados à coroa, recompensou a cada um dos súditos. Depois de uma longa e merecidas férias cada um deles foi designado para comandar uma missão diferente em pontos oposto do universo, mantendo-os distantes em milhares de anos-luz. Quanto ao planeta descoberto pelos dois, por não ter sido catalogado nos anais das viagens espaciais, ficou esquecido em um ponto qualquer do universo como se fosse uma Zona Proibida.
Roberto Policiano

2 Comments:

At 7:29 PM, Anonymous Ana said...

Gostei da narrativa e da viagem ao futuro. Talvez, afinal, ainda haja esperança para o planeta... Só não percebi o porquê da existência de uma zona proibida. Tanta evolução e, afinal, as interdições continuarão.
Abraço solidário face à tragédia que tem assolado o Brasil.

 
At 5:33 PM, Blogger Roberto Policiano said...

A Zona foi proibida pelas personagens principais, visto que eles resolveram não informar este achado à Rainha. Abraços

 

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