Roberto Policiano

10 de jul. de 2013

Deserto



 
Dunas e sol escaldante;

Ar aquecido ondeia diante de si;

Boca ressequida;

Lábios rachados;

Segue caminhando.

Tropegamente cambaleia.

O solo do deserto

Queima as solas de seus pés.

Anseia por água, mas se depara com a aridez.

Visualiza um lago;

Arrasta-se até ele;

Enche a sua boca;

Era apenas uma miragem!

A farofa de rocha apega-se à mucosa;

Cospe em desespero;

A saliva, como cola, dificulta a operação.

Segue cambaleante.

Vê novo corpo de água,

Mas não tem certeza se é real.

Chega com cuidado,

Tateando para se certificar da veracidade da percepção.

Sorri ao sentir o líquido em seus dedos.

Mergulha com roupa e tudo;

Sacia a sede pela boca e pelos poros;

Encharca-se na fonte;

Entrega-se ao êxtase do momento.

A caminhada precisa ser retomada.

Dias transformam-se em semanas

E a sequidão volta ao organismo.

Novas miragens se apresentam,

Mas o tatear preventivo é usado.

Tenta iludir-se bebendo a própria saliva,

Embora ciente da inutilidade do ato.

Ergue os olhos;

Mira o horizonte;

Vira-se para o Leste;

Encara o Oeste;

O deserto parece interminável.

A vontade de desistir é grande,

Mas insiste em prosseguir.



Roberto Policiano