Gelada
Passava um pouco das seis horas da manhã
quando embarquei no trem. A primeira impressão que tive foi de que o condutor –
antigo maquinista – era novo de profissão e levava consigo ainda os costumes da
última função. Eu deduzi que ele trabalhara em uma empresa de conservação de
alimentos, haja vista que os carros da composição – antigamente chamados de
vagões – mais pareciam câmaras frigoríficas, dado o ambiente gélido produzido
pelo aparelho de ar condicionado. Embora a temperatura externa estivesse
quente, muitos passageiros estavam agasalhados. Entre eles um casal de namorados
trocavam elogios. Em certa altura da conversa deles aconteceu o seguinte
diálogo:
- Benziiiiiiiiinhooooooooooo!
- Huuuuuuuuuummmmmmmmmmmmm!
- Alguém está falando bem de
você.
- Poooorrr quuuuuuêêêê?
- Sua orelha direita está
gelaaaaaaaaaaaaaada!
Roberto Policiano
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