Não falta mais nada!
Mais um episódio de
problemas na linha de transporte férreo de passageiros e, como sempre acontece
em tais ocasiões, cada composição está abarrotada com passageiros de cinco
viagens. Naquele dia, no entanto, a situação estava realmente crítica, pois, se
em condições normais o trem acomoda quatro pessoas por metro quadrado, havia,
sem nenhum exagero, vinte e sete passageiros amontoados na mesma área. Não se
respirava ar, mas gás carbônico provenientes de centenas de visitas a pulmões,
de modo que já vinha aquecido por tais trajetórias. Em cada estação a espera
era de cerca de dez minutos a fim de desentalarem os passageiros que pretendiam
descer, além das tentativas de embarque daqueles que esperavam na plataforma
superlotada. Pelo menos acontecia a troca de oxigênio na composição, o que
permitia que a carga viva continuasse como tal. Com tudo isso o período do
percurso era multiplicado por sete. Um dos passageiros, com o corpo retorcido
em trezentos e quarenta e cinco graus e sustentado com apenas a ponta do pé
direito - pois o outro não encontrou piso para se apoiar – e com o rosto
enterrado na axila esquerda do companheiro de suplício, pensou: “pior que isso
impossível!”. No entanto, assim que terminou sua reflexão um odor desagradável,
proveniente do Rio Pinheiros, invadiu suas narinas, resultando num mal estar
quase que de imediato.
- Quem mandou duvidar?,
desabafou consigo mesmo.
Roberto Policiano
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