Roberto Policiano

23 de out. de 2013

Não falta mais nada!





Mais um episódio de problemas na linha de transporte férreo de passageiros e, como sempre acontece em tais ocasiões, cada composição está abarrotada com passageiros de cinco viagens. Naquele dia, no entanto, a situação estava realmente crítica, pois, se em condições normais o trem acomoda quatro pessoas por metro quadrado, havia, sem nenhum exagero, vinte e sete passageiros amontoados na mesma área. Não se respirava ar, mas gás carbônico provenientes de centenas de visitas a pulmões, de modo que já vinha aquecido por tais trajetórias. Em cada estação a espera era de cerca de dez minutos a fim de desentalarem os passageiros que pretendiam descer, além das tentativas de embarque daqueles que esperavam na plataforma superlotada. Pelo menos acontecia a troca de oxigênio na composição, o que permitia que a carga viva continuasse como tal. Com tudo isso o período do percurso era multiplicado por sete. Um dos passageiros, com o corpo retorcido em trezentos e quarenta e cinco graus e sustentado com apenas a ponta do pé direito - pois o outro não encontrou piso para se apoiar – e com o rosto enterrado na axila esquerda do companheiro de suplício, pensou: “pior que isso impossível!”. No entanto, assim que terminou sua reflexão um odor desagradável, proveniente do Rio Pinheiros, invadiu suas narinas, resultando num mal estar quase que de imediato.

- Quem mandou duvidar?, desabafou consigo mesmo.
 
Roberto Policiano