Roberto Policiano

4 de set. de 2013

Alzheimer



Os músculos desapareceram;

As pernas cambaleiam ao andar;

As mãos tateiam a procura de um apoio;

A mente vaga entre vazios

E ilhas de lembranças

Nebulosas e confusas

Onde passado e presente se misturam;

Os olhos apequenados quase não veem;

Os ouvidos captam estrondos como sussurros;

As pessoas em sua frente

Dançam confusamente

E personagens da atualidade

E de antigamente

Aparecem e se escondem

Como uma brincadeira agourenta;

A comida em sua boca

Parece-lhe dura como cascalho

Tornando difícil engoli-la;

Anda desconfiada de que alguém

Está lhe tirando algo,

Embora não saiba precisar

Quem é a pessoa

Nem o que lhe foi subtraído;

Talvez seja a percepção

Das perdas que a limitam

Deixando-a confusa num vazio

E com a sensação angustiante

De ter sido lesada;

A energia restante é suficiente

Apenas para caminhar

De um cômodo ao outro,

Onde os dias se arrastam

Como se estivesse a andar

No fio que lhe resta da vida.


Roberto Policiano