Ser Si-mesmo
Olhou com
satisfação para o seu novo lar. Sempre quis uma decoração daquela, mas a
permanência na casa dos pais impedia isso. Caminhou lentamente em cada cômodo
do apartamento e observou atentamente cada detalhe como se fosse a primeira vez
que se deparava com eles. Um não sei quê de satisfação invadiu sua alma e um
sentimento de realização fez com que um largo sorriso enfeitasse seu rosto.
Pela primeira vez sentiu uma sensação de liberdade. Finalmente se sentia livre
das amarras que impediram que se manifestasse seu eu em toda sua plenitude. E,
para se assegurar de sua total autonomia em gerenciar sua própria vida,
determinou viver de modo oposto ao que lhe fora ensinado desde a sua infância.
Anos depois, apesar de se apegar com afinco à sua decisão, um sentimento de
vazio ainda fazia parte de sua vida. O incômodo era tão intenso que o
externalizou para uma pessoa achegada. Esta, depois de ouvir atentamente tudo o
que lhe fora dito, refletiu por um momento e respondeu:- Você continua com as amarras que pensa ter se libertado.
- Como assim?
- Você continua com as referências de seus pais.
- Isso é um absurdo, pois eu fiz questão de ser exatamente o oposto deles!
- Percebeu o que você acabou de dizer?
- Não estou entendendo.
- Vou repetir o que você disse: “sou exatamente o oposto deles”. Sabe o que isso quer dizer? Os referenciais de seus pais continuam dominando sua vida.
- O que você quer dizer com isso?
- Quando você determinou a si ser o oposto de seus pais, esqueceu-se de ser você.
- E o que eu tenho que fazer?
- Seja você! Para isso é necessário descobrir quem você é, e isso só é possível quando se abandona todos os referenciais.
Já em casa, serviu-se de chá, torradas e requeijão e, enquanto saboreava seu lanche, perguntou-se:
- Quem sou eu, afinal?
Roberto Policiano
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