WI-FI
Coriolando nasceu,
cresceu e se formou numa cidade pacata do interior. Lá estudou e
aprendeu a lidar com os afazeres da fazenda onde morava. Não havia serviço que
ele não soubesse ou não gostasse de fazer na propriedade de sua família.
Manobrava o trator com habilidade, mesmo nos terrenos mais íngremes e
escorregadios. Sabia como poucos a "pilotar" a colheitadeira e fazia
isso com prazer. Dirigia o caminhão carregado de produtos cultivados e colhidos
em suas terras com uma alegria que era contagiante. Não havia lugar que não
chegasse quando conduzia sua pick up com tração nas quatro horas, sendo ele o
designado para buscar bezerros recém-nascidos e as vacas que pariram para o conforto do
curral. Não sentia nenhum atrativo pelos computadores, aliás, repelia-os
veementemente, dizendo que: 'tal máquina era para quem quer fugir do
trabalho de verdade, onde se usava a força dos braços e toda a energia do corpo
para arrancar o pão do solo e cuidar dos animais'. Por causa disso nem chegava
perto do 'instrumento preferido dos desocupados ou fracos' - como fazia questão
de dizer entre risos de deboche. O rapaz amava o seu lugar e não o trocava por
nenhum outro. Os finais de semana passava com os amigos entre jogos e
brincadeiras e passeios a cavalo. Rodeios e Exposições, fosse qual fosse o
tema, só o atraia quando aconteciam em sua cidade. Há muito era convidado a
conhecer outras paragens, mas sempre respondia que sua vila lhe oferecia tudo
que era necessário e resistia a qualquer tentativa para sair do seu lugar. Mas
quanto mais ele dizia não, mais os amigos e parentes insistiam e com
intensidade cada vez mais crescente, até que, 'para satisfazer a necessidade de
outros e não as suas' - como fez questão de frisar, resolveu acabar com aquela
pressão e foi visitar uma cidade diferente, distante cerca de mil quilômetros
de sua região, o que envolveu viajar de avião, onde ele embarcou
tranquilamente, do mesmo modo que montava em seu alazão, 'porque', disse ele,
'homem que é homem não tem medo de nada'.
Ao chegar à cidade
onde fora obrigado a visitar, foi a um restaurante a fim de saborear uma comida
diferente, embora garantisse que não havia alguém no mundo que cozinhasse
melhor do que sua mãe. Entrando no recinto percebeu um letreiro luminoso que
comunicava: "Temos Wi-fi".
De computador
ele não sabia nada, mas, como tinha um tio chamado Walter, um primo de nome
Waldomiro e era amigo do Waldemar desde os tempos da escola primária, sabia que
o dáblio se pronunciava com o som da letra V, de modo que leu mentalmente a
informação assim: "Temos Vi-fi".
Seguiu o recepcionista que, depois de
consultá-lo sobre sua preferência, levou-o a uma mesa de onde se poderia ver a
cidade. Um cartaz numa das paredes reafirmava o letreiro na entrada:
"Temos Wi-fi", que o cliente leu em silêncio como fez da primeira
vez.
Ao receber o
cardápio percebeu que na parte superior de sua capa o restaurante insistia em
comunicar que o ambiente dispunha Wi-fi, que para ele era Vi-fi e pronto! Ao notar a
insistência em comunicar tal novidade, nosso homem esboçou um discreto sorriso
de ironia.
Um diferencial
da casa era que o cliente montava seu próprio prato de acordo com seu paladar. Quando
foi informado disso o rapaz fez a seguinte combinação dos alimentos disponíveis:
- Quero uma
porção de arroz à grega; batatas sauté, anéis de cebolas douradas na manteiga
e, cedendo à insistência da casa, um Vi-fi à parmegiana.
Ainda bem que o
atendente era um pouco surdo. Como resultado foi servido ao cliente um
suculento filé mignon à parmegiana.
Até hoje ele
comenta para os seus que a única vantagem da viagem forçada fora a boa carne
servida naquela refeição!
Roberto Policiano
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