Roberto Policiano

11 de jun. de 2014

WI-FI



Coriolando nasceu, cresceu e se formou numa cidade pacata do interior. Lá estudou e aprendeu a lidar com os afazeres da fazenda onde morava. Não havia serviço que ele não soubesse ou não gostasse de fazer na propriedade de sua família. Manobrava o trator com habilidade, mesmo nos terrenos mais íngremes e escorregadios. Sabia como poucos a "pilotar" a colheitadeira e fazia isso com prazer. Dirigia o caminhão carregado de produtos cultivados e colhidos em suas terras com uma alegria que era contagiante. Não havia lugar que não chegasse quando conduzia sua pick up com tração nas quatro horas, sendo ele o designado para buscar bezerros recém-nascidos e  as vacas que pariram para o conforto do curral. Não sentia nenhum atrativo pelos computadores, aliás, repelia-os veementemente, dizendo que: 'tal máquina era para quem quer fugir do trabalho de verdade, onde se usava a força dos braços e toda a energia do corpo para arrancar o pão do solo e cuidar dos animais'. Por causa disso nem chegava perto do 'instrumento preferido dos desocupados ou fracos' - como fazia questão de dizer entre risos de deboche. O rapaz amava o seu lugar e não o trocava por nenhum outro. Os finais de semana passava com os amigos entre jogos e brincadeiras e passeios a cavalo. Rodeios e Exposições, fosse qual fosse o tema, só o atraia quando aconteciam em sua cidade. Há muito era convidado a conhecer outras paragens, mas sempre respondia que sua vila lhe oferecia tudo que era necessário e resistia a qualquer tentativa para sair do seu lugar. Mas quanto mais ele dizia não, mais os amigos e parentes insistiam e com intensidade cada vez mais crescente, até que, 'para satisfazer a necessidade de outros e não as suas' - como fez questão de frisar, resolveu acabar com aquela pressão e foi visitar uma cidade diferente, distante cerca de mil quilômetros de sua região, o que envolveu viajar de avião, onde ele embarcou tranquilamente, do mesmo modo que montava em seu alazão, 'porque', disse ele, 'homem que é homem não tem medo de nada'.

Ao chegar à cidade onde fora obrigado a visitar, foi a um restaurante a fim de saborear uma comida diferente, embora garantisse que não havia alguém no mundo que cozinhasse melhor do que sua mãe. Entrando no recinto percebeu um letreiro luminoso que comunicava: "Temos Wi-fi".

De computador ele não sabia nada, mas, como tinha um tio chamado Walter, um primo de nome Waldomiro e era amigo do Waldemar desde os tempos da escola primária, sabia que o dáblio se pronunciava com o som da letra V, de modo que leu mentalmente a informação assim: "Temos Vi-fi".

 Seguiu o recepcionista que, depois de consultá-lo sobre sua preferência, levou-o a uma mesa de onde se poderia ver a cidade. Um cartaz numa das paredes reafirmava o letreiro na entrada: "Temos Wi-fi", que o cliente leu em silêncio como fez da primeira vez.

Ao receber o cardápio percebeu que na parte superior de sua capa o restaurante insistia em comunicar que o ambiente dispunha Wi-fi, que para ele era Vi-fi e pronto! Ao notar a insistência em comunicar tal novidade, nosso homem esboçou um discreto sorriso de ironia.

Um diferencial da casa era que o cliente montava seu próprio prato de acordo com seu paladar. Quando foi informado disso o rapaz fez a seguinte combinação dos alimentos disponíveis:

- Quero uma porção de arroz à grega; batatas sauté, anéis de cebolas douradas na manteiga e, cedendo à insistência da casa, um Vi-fi à parmegiana.

Ainda bem que o atendente era um pouco surdo. Como resultado foi servido ao cliente um suculento filé mignon à parmegiana.

Até hoje ele comenta para os seus que a única vantagem da viagem forçada fora a boa carne servida naquela refeição!
 
 
Roberto Policiano