30 de jul. de 2014
23 de jul. de 2014
De passagem
Paulinho
passava pela praça do lugar em direção ao ponto de ônibus. Amanhecia e o sol,
que enviava seus primeiros raios , coloria as nuvens com um dourado
suave, espetáculo que não foi percebido pelo garoto, pois, precisando embarcar na
próxima condução para chegar à escola no horário, andava apressado sem notar nada
em sua volta.
Já
em sala de aula o educador tentava transmitir aos alunos uma informação
complexa sobre o tema do dia, mas Paulinho, preocupado com um teste que faria
no clube de natação na tarde daquele dia, não conseguia prestar atenção às
explicações do professor.
Mais
tarde, à beira da piscina, o pequeno atleta ouvia as orientações do instrutor sobre as
técnicas necessárias que deveriam ser usadas a fim de atingir o mínimo
de tempo necessário para prosseguir na competição e não percebia um par
de olhos deitados ternamente sobre ele.
Em
seu apartamento o estudante, absorto nos exercícios que deveriam ser resolvidos
para a aula do dia seguinte, nem percebeu a chuva que caiu naquele entardecer,
nem no belo arco-íris que se formou e que poderia ser apreciado se tão
somente ele se chegasse à janela de seu quarto.
E
seguiu Paulinho neste mesmo ritmo, sempre tendo algo para planejar ,
o que lhe roubava a oportunidade de viver os momentos do presente que passavam
despercebidos.
Algumas
décadas depois o Doutor Paulo, eminente cidadão que se tornou uma referência na
área de sua atuação, enquanto descansava numa cadeira de praia, refletia sobre
sua vida e, por mais que progredira em seu campo de trabalho, e, não obstante o
reconhecimento profissional e a generosa recompensa financeira por suas
contribuições para a ciência, sentia um vazio imenso que ele, embora sábio, não
sabia encontrar uma explicação.
Roberto Policiano
16 de jul. de 2014
T.R.E.M.
Você
sabe o que é trem?
Trem: 'um conjunto de
vagões engatados uns nos outros conduzidos por uma locomotiva, podendo ser
usado para carregar cargas ou passageiros'.
E TREM, você sabe o que é ?
TREM: 'Expressão usada para designar qualquer coisa, boa ou ruim'. Seguem alguns
exemplos para ajudar:
Um
amigo comentando com outro sobre a sobremesa:
-
Que TREM bom que tá isso, você não acha?
O
paciente para o oftalmologista:
-
Doutor, entrou um TREM no meu olho esquerdo.
A
mãe zangada se dirigindo ao filho diante do quarto bagunçado:
-
Que TREM é esse que você está fazendo, menino?
O
marido faminto ao chegar a casa:
-
Meu bem, estou morrendo tem fome. Tem algum TREM pra comer?
O
crítico diante de uma obra de arte:
-
Que TREM horroroso é este?
O
estudante despreparado diante da prova:
-
Esse TREM tá muito difícil!
Diante
de um queijo:
-
TREM bom!
Diante
da goiabada:
-
TREM gostoso!
Diante
de um “Romeu e Julieta” no capricho:
-
TREM maravilhoso!
Ao
se deparar com um desafeto:
-
TREM perverso!
Alguma
coisa desagradável:
-
Sai pra lá, TREM ruim!
Algo
bastante anelado:
-
Ah! Se eu tivesse um TREM desses!
Como
vimos, trem é diferente de TREM.
O
certo mesmo seria escrever T.R.E.M.. E, como vimos, o seu significado
depende inteiramente do contexto.
O
que é, então, T.R.E.M.?
Termo
Referencial Exclusivamente Mineiro.
Roberto Policiano
Roberto Policiano
9 de jul. de 2014
Coprófagos
De repente me dei conta de que somos tratados como coprófagos. Não sabe
do que se trata? Tudo bem, não se preocupe, pois não é uma palavra que faz
parte do nosso cotidiano, portanto não aparece em jornais ou periódicos comuns.
Aliás este fato é muito significativo, mas depois eu volto a ele. Quero
primeiro matar sua curiosidade sobre o que vem a ser isso. Ele nada
mais é do que um scarafaius. Para
ajudá-lo o nome anterior é uma variante de scarabaeus.
É uma designação comum – comum? – de insetos pertencentes à grande família dos
Scarabaeidade, ou, se facilitar, dos escarabeídeos. Estou falando do velho
escaravelho, também conhecido como escarabeu, carocha, rola-bosta, capitão,
coró, bicho-bolo e bicho-carpinteiro. Chamá-lo de velho não é exagero nenhum,
pois o scarabeus sacer, ou, se
preferir, o escaravelho sagrado, era conhecido e adorado pelos antigos
egípcios e usado como amuleto relacionado com a vida após a morte e a
ressurreição.
E o que pretendo eu ao dizer que somos tratados como estes besouros
pesados e coloridos, designados cientificamente como coleópteros e coprófagos?
Pois bem, sabia que muitos deles se alimentam de excrementos de mamíferos
herbívoros? Tente visualizar a mamãe Scarabeus
sacer preparando uma bolinha de excremento e, algumas, um pouco mais
voltada para a arte culinária, fazendo uma cobertura de barro sobre o prato
principal para, em seguida, levá-lo a um esconderijo, onde deposita um ovo para
que seu rebento, seu querido filhinho, tenha o que comer quando nascer! Tendo
providenciado o dejejum para os seus, chegou a vez de providenciar a refeição
para a família. Entendeu porque alguns deles recebe o nome de rola-bosta? Não
quero nem pensar numa confraternização familiar! Muitas espécies, na ânsia de
prover sustento suficiente para o futuro, vive quase que exclusivamente para
estocar excremento em vários pontos do terreno, muitos deles dos quais jamais se
lembrará!
Agora olhe para nós. O que se nos oferece? Em quê estamos empenhando
nossas vidas? Quantas ‘porcarias’ consumimos constantemente? Quantas
quinquilharias nos são oferecidas com a garantia de que elas são necessárias
para a nossa ‘felicidade’? E, convencidos de que se nos oferecem o que há de
melhor, passamos nossas vidas a ajuntá-las. Responda-me sinceramente – Somos ou
não somos coprófagos?
Roberto Policiano
2 de jul. de 2014
Embrutecidos
De repente é
sexta,
Logo após,
segunda,
Como a uma
roleta
A rotina nos
circunda.
Janeiro,
maio, outubro,
Rola o ano
enlouquecido,
E nós,
prisioneiros ao cubo,
Tornamo-nos
embrutecidos.
Passa a vida
como um poste
Visto da
janela do trem,
E, quanto
menos goste,
O passageiro
é mais ninguém.
Somos
conhecidos por números
Registrados
em documentos,
Equacionados
em meros
Percentuais
para argumentos.
"Fez-se
tantos para algumas";
"Conseguiu-se
tais melhorias";
Mão incisiva
que empunha
Provas de
boas parcerias.
Já não
pulsam corações
A não ser em
laboratórios;
Não para
medir emoções,
Mas
preencher relatórios.
Se bater
tantos por minutos
Os impulsos
estão normais.
Fomos
reduzidos a diminutos
Biológicos
funcionais.
Roberto Policiano