Roberto Policiano

30 de jul. de 2014

Bisa Ondina




Mar ia;
Mar vinha;

Maria...

 

Onda ia;

Onda vinha;

Olindina...

 

Mar ia, onda vinha;

Mar vinha, onda ia;

Maria Olindina...

 

O vai e vem das ondas

Deixa calmo o Silva;

Maria Olindina do Carmo Silva.



Roberto Policiano

23 de jul. de 2014

De passagem




Paulinho passava pela praça do lugar em direção ao ponto de ônibus. Amanhecia e o sol, que enviava seus primeiros raios , coloria as nuvens com um dourado suave, espetáculo que não foi percebido pelo garoto, pois, precisando embarcar na próxima condução para chegar à escola no horário, andava apressado sem notar nada em sua volta.

Já em sala de aula o educador tentava transmitir aos alunos uma informação complexa sobre o tema do dia, mas Paulinho, preocupado com um teste que faria no clube de natação na tarde daquele dia, não conseguia prestar atenção às explicações do professor.

Mais tarde, à beira da piscina, o pequeno atleta ouvia as orientações do instrutor sobre as técnicas necessárias que deveriam ser usadas a fim de atingir o mínimo de tempo necessário para prosseguir na competição e não percebia um par de olhos deitados ternamente sobre ele.

Em seu apartamento o estudante, absorto nos exercícios que deveriam ser resolvidos para a aula do dia seguinte, nem percebeu a chuva que caiu naquele entardecer, nem no belo arco-íris que se formou e que poderia ser apreciado se tão somente ele se chegasse à janela de seu quarto.

E seguiu Paulinho neste mesmo ritmo, sempre tendo algo para planejar , o que lhe roubava a oportunidade de viver os momentos do presente que passavam despercebidos.

Algumas décadas depois o Doutor Paulo, eminente cidadão que se tornou uma referência na área de sua atuação, enquanto descansava numa cadeira de praia, refletia sobre sua vida e, por mais que progredira em seu campo de trabalho, e, não obstante o reconhecimento profissional e a generosa recompensa financeira por suas contribuições para a ciência, sentia um vazio imenso que ele, embora sábio, não sabia encontrar uma explicação.


Roberto Policiano

16 de jul. de 2014

T.R.E.M.



Você sabe o que é trem?

 Trem: 'um  [Brasil]  conjunto de vagões engatados uns nos outros conduzidos por uma locomotiva, podendo ser usado para carregar cargas ou passageiros'.

 E TREM, você sabe o que é ?

TREM: 'Expressão usada para designar qualquer coisa, boa ou ruim'. Seguem alguns exemplos para ajudar:

Um amigo comentando com outro sobre a sobremesa:

- Que TREM bom que tá isso, você não acha?

O paciente para o oftalmologista:

- Doutor, entrou um TREM no meu olho esquerdo.

A mãe zangada se dirigindo ao filho diante do quarto bagunçado:

- Que TREM é esse que você está fazendo, menino?

O marido faminto ao chegar a casa:

- Meu bem, estou morrendo tem fome. Tem algum TREM pra comer?

O crítico diante de uma obra de arte:

- Que TREM horroroso é este?

O estudante despreparado diante da prova:

- Esse TREM tá muito difícil!

Diante de um queijo:

- TREM bom!

Diante da goiabada:

- TREM gostoso!

Diante de um “Romeu e Julieta” no capricho:

- TREM maravilhoso!

Ao se deparar com um desafeto:

- TREM perverso!

Alguma coisa desagradável:

- Sai pra lá, TREM ruim!

Algo bastante anelado:

- Ah! Se eu tivesse um TREM desses!

Como vimos, trem é diferente de TREM.

O certo mesmo seria escrever T.R.E.M.. E, como vimos, o seu significado depende inteiramente do contexto.

O que é, então, T.R.E.M.?

Termo Referencial Exclusivamente Mineiro.


Roberto Policiano
 

9 de jul. de 2014

Coprófagos




De repente me dei conta de que somos tratados como coprófagos. Não sabe do que se trata? Tudo bem, não se preocupe, pois não é uma palavra que faz parte do nosso cotidiano, portanto não aparece em jornais ou periódicos comuns. Aliás este fato é muito significativo, mas depois eu volto a ele. Quero primeiro matar sua curiosidade sobre o que vem a ser isso. Ele nada mais é do que um scarafaius. Para ajudá-lo o nome anterior é uma variante de scarabaeus. É uma designação comum – comum? – de insetos pertencentes à grande família dos Scarabaeidade, ou, se facilitar, dos escarabeídeos. Estou falando do velho escaravelho, também conhecido como escarabeu, carocha, rola-bosta, capitão, coró, bicho-bolo e bicho-carpinteiro. Chamá-lo de velho não é exagero nenhum, pois o scarabeus sacer, ou, se preferir, o escaravelho sagrado, era conhecido e adorado pelos antigos egípcios e usado como amuleto relacionado com a vida após a morte e a ressurreição.

E o que pretendo eu ao dizer que somos tratados como estes besouros pesados e coloridos, designados cientificamente como coleópteros e coprófagos? Pois bem, sabia que muitos deles se alimentam de excrementos de mamíferos herbívoros? Tente visualizar a mamãe Scarabeus sacer preparando uma bolinha de excremento e, algumas, um pouco mais voltada para a arte culinária, fazendo uma cobertura de barro sobre o prato principal para, em seguida, levá-lo a um esconderijo, onde deposita um ovo para que seu rebento, seu querido filhinho, tenha o que comer quando nascer! Tendo providenciado o dejejum para os seus, chegou a vez de providenciar a refeição para a família. Entendeu porque alguns deles recebe o nome de rola-bosta? Não quero nem pensar numa confraternização familiar! Muitas espécies, na ânsia de prover sustento suficiente para o futuro, vive quase que exclusivamente para estocar excremento em vários pontos do terreno, muitos deles dos quais jamais se lembrará!

Agora olhe para nós. O que se nos oferece? Em quê estamos empenhando nossas vidas? Quantas ‘porcarias’ consumimos constantemente? Quantas quinquilharias nos são oferecidas com a garantia de que elas são necessárias para a nossa ‘felicidade’? E, convencidos de que se nos oferecem o que há de melhor, passamos nossas vidas a ajuntá-las. Responda-me sinceramente – Somos ou não somos coprófagos?   

Roberto Policiano

2 de jul. de 2014

Embrutecidos




 
 
De repente é sexta,

Logo após, segunda,

Como a uma roleta

A rotina nos circunda.

 

Janeiro, maio, outubro,

Rola o ano enlouquecido,

E nós, prisioneiros ao cubo,

Tornamo-nos embrutecidos.

 

Passa a vida como um poste

Visto da janela do trem,

E, quanto menos goste,

O passageiro é mais ninguém.

 

Somos conhecidos por números

Registrados em documentos,

Equacionados em meros

Percentuais para argumentos.

 

"Fez-se tantos para algumas";

"Conseguiu-se tais melhorias";

Mão incisiva que empunha

Provas de boas parcerias.

 

Já não pulsam corações

A não ser em laboratórios;

Não para medir emoções,

Mas preencher relatórios.

 

Se bater tantos por minutos

Os impulsos estão normais.

Fomos reduzidos a diminutos

Biológicos funcionais.


Roberto Policiano