Coprófagos
De repente me dei conta de que somos tratados como coprófagos. Não sabe
do que se trata? Tudo bem, não se preocupe, pois não é uma palavra que faz
parte do nosso cotidiano, portanto não aparece em jornais ou periódicos comuns.
Aliás este fato é muito significativo, mas depois eu volto a ele. Quero
primeiro matar sua curiosidade sobre o que vem a ser isso. Ele nada
mais é do que um scarafaius. Para
ajudá-lo o nome anterior é uma variante de scarabaeus.
É uma designação comum – comum? – de insetos pertencentes à grande família dos
Scarabaeidade, ou, se facilitar, dos escarabeídeos. Estou falando do velho
escaravelho, também conhecido como escarabeu, carocha, rola-bosta, capitão,
coró, bicho-bolo e bicho-carpinteiro. Chamá-lo de velho não é exagero nenhum,
pois o scarabeus sacer, ou, se
preferir, o escaravelho sagrado, era conhecido e adorado pelos antigos
egípcios e usado como amuleto relacionado com a vida após a morte e a
ressurreição.
E o que pretendo eu ao dizer que somos tratados como estes besouros
pesados e coloridos, designados cientificamente como coleópteros e coprófagos?
Pois bem, sabia que muitos deles se alimentam de excrementos de mamíferos
herbívoros? Tente visualizar a mamãe Scarabeus
sacer preparando uma bolinha de excremento e, algumas, um pouco mais
voltada para a arte culinária, fazendo uma cobertura de barro sobre o prato
principal para, em seguida, levá-lo a um esconderijo, onde deposita um ovo para
que seu rebento, seu querido filhinho, tenha o que comer quando nascer! Tendo
providenciado o dejejum para os seus, chegou a vez de providenciar a refeição
para a família. Entendeu porque alguns deles recebe o nome de rola-bosta? Não
quero nem pensar numa confraternização familiar! Muitas espécies, na ânsia de
prover sustento suficiente para o futuro, vive quase que exclusivamente para
estocar excremento em vários pontos do terreno, muitos deles dos quais jamais se
lembrará!
Agora olhe para nós. O que se nos oferece? Em quê estamos empenhando
nossas vidas? Quantas ‘porcarias’ consumimos constantemente? Quantas
quinquilharias nos são oferecidas com a garantia de que elas são necessárias
para a nossa ‘felicidade’? E, convencidos de que se nos oferecem o que há de
melhor, passamos nossas vidas a ajuntá-las. Responda-me sinceramente – Somos ou
não somos coprófagos?
Roberto Policiano
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