Roberto Policiano

23 de jul. de 2014

De passagem




Paulinho passava pela praça do lugar em direção ao ponto de ônibus. Amanhecia e o sol, que enviava seus primeiros raios , coloria as nuvens com um dourado suave, espetáculo que não foi percebido pelo garoto, pois, precisando embarcar na próxima condução para chegar à escola no horário, andava apressado sem notar nada em sua volta.

Já em sala de aula o educador tentava transmitir aos alunos uma informação complexa sobre o tema do dia, mas Paulinho, preocupado com um teste que faria no clube de natação na tarde daquele dia, não conseguia prestar atenção às explicações do professor.

Mais tarde, à beira da piscina, o pequeno atleta ouvia as orientações do instrutor sobre as técnicas necessárias que deveriam ser usadas a fim de atingir o mínimo de tempo necessário para prosseguir na competição e não percebia um par de olhos deitados ternamente sobre ele.

Em seu apartamento o estudante, absorto nos exercícios que deveriam ser resolvidos para a aula do dia seguinte, nem percebeu a chuva que caiu naquele entardecer, nem no belo arco-íris que se formou e que poderia ser apreciado se tão somente ele se chegasse à janela de seu quarto.

E seguiu Paulinho neste mesmo ritmo, sempre tendo algo para planejar , o que lhe roubava a oportunidade de viver os momentos do presente que passavam despercebidos.

Algumas décadas depois o Doutor Paulo, eminente cidadão que se tornou uma referência na área de sua atuação, enquanto descansava numa cadeira de praia, refletia sobre sua vida e, por mais que progredira em seu campo de trabalho, e, não obstante o reconhecimento profissional e a generosa recompensa financeira por suas contribuições para a ciência, sentia um vazio imenso que ele, embora sábio, não sabia encontrar uma explicação.


Roberto Policiano