Roberto Policiano

24 de dez. de 2014

Julgamento




A mulher chegou a casa após um dia exaustivo de trabalho. Ao entrar viu o carro na garagem. De lá mesmo visualizou o marido deitado no sofá. Colocou a bolsa na prateleira entre os vasos de plantas, pegou a mangueira, o xampu, o pano macio e lavou o veículo, que usaria cedo, no dia seguinte.

Pergunta: Por que a mulher lavou o carro?

Tempo para pensar na resposta – um minuto.

...

Tempo para refletir na resposta fornecida – dois minutos.

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Conclusão: Por mais elaborada que tenha sido a resposta não passa de uma criação!

Os elementos fornecidos foram: Uma mulher que chegou do trabalho; um carro na garagem; um homem deitado no sofá; o ato da mulher de lavar o carro.

Pergunta: De onde foram tirados os demais elementos para se chegar ao veredicto?

Resposta: Da experiência de vida da pessoa que julgou.

Percebeu o erro? Foram usados elementos conhecidos de experiências pessoais para fazer o julgamento de ações de pessoas totalmente desconhecidas.

A resposta fornecida, seja ela qual for, está repleta de julgamentos baseados em situações vividas pela pessoa que julgou, ou por alguém conhecido por ela. Pode ter sido influenciada também por informações que leu, assistiu, ou soube de outros modos.

O teor da resposta também foi influenciado pelas emoções experimentadas pelas situações mencionadas acima.

 Por exemplo, se foi uma emoção negativa, provavelmente foi apontado um culpado ou uma culpada.

O mesmo pode-se dizer dos argumentos, explicações, desculpas fornecidas para se chegar à resposta dada.

Há também que se levar em conta o viés da conclusão, dependendo se foi um homem ou uma mulher que a forneceu.

Diversos elementos poderiam ser incluídos para percebermos que muitas coisas são levadas em conta ao se fazer um julgamento, que necessariamente não fazem parte dos elementos reais da questão.

E o mais assustador é que a pessoa que forneceu a resposta tem a convicção de que fez um julgamento imparcial.

Quantas vezes nossas certezas são baseadas em apoios totalmente infundados!


Roberto Policiano