Silcleide
Silcleide é uma pessoa muito querida por aqueles que a conhecem. Dizem que para ela não existe ‘tempo ruim’, pois está sempre pronta para acudir seja quem for que pedir socorro a ela. Uma visita especial irá almoçar na casa de alguém? Acompanhante para uma consulta médica? Buscar uma encomenda do outro lado da cidade? Compras de emergência? Viagem inesperada? Babá para um fim de semana? Ajustes em roupas? Levar recados? Faxina de virar a casa pelo avesso? Esperar uma mercadoria que está para ser entregue? Silcleide... Silcleide... Silcleide. Ela topa tudo! E faz com uma satisfação que só vendo para crer. Quem a conhece não fica em apuros, é o que todos dizem, e não há exagero nenhum nisso. Ela nasceu para servir, e como sente feliz por isso! Como recompensa é querida por todos e convidada para todos os eventos. Só que, como reconheceu uma amiga achegada numa conversa com outras que já foram socorridas pela Silcleide, todos os convites foram para que ela atuasse nos bastidores. Era sempre lembrada para prestar um socorro. Resolvida a reparar tal erro a amiga resolveu que, na primeira oportunidade que tivesse, convidaria a Silcleide para ficar ao seu lado, não para servir, mas para usufruir o evento. A oportunidade chegou três meses depois da resolução. A princípio Silcleide resistiu. - Quem sou eu para participar de uma festa? - Pois é isso mesmo que você vai fazer, disse-lhe a amiga. Cumprindo sua promessa a amiga fez da ida à festa uma festa para a Silcleide. Levou-a ao salão de beleza onde, depois de passar pelas mãos da cabeleireira, da manicure, da esteticista. A mulher, agora outra pessoa, recebeu um lindo vestido longo. Ao ver o resultado refletido no espelho ela riu, ou melhor, gargalhou. Fui uma grande dificuldade convencê-la da necessidade de manter a seriedade para não estragar o trabalho das profissionais de beleza. Na festa, visto não estar do lado de quem servia, não sabia como se comportar. Sentia-se esquisita no meio de tantas pessoas elegantes. Tentou convencer a amiga que lhe dera a festa de presente a deixá-la sentada numa das confortáveis poltronas que se encontravam numa espécie de sala de estar contígua à sala onde os convivas se reuniam, mas a amiga fez questão de que Silcleide festejasse a festa, foi a expressão usada por ela. Como não teve alternativa, Silcleide, andou, conversou, sorriu, dançou, foi servida, até se exaurir com tanto festejo, a ponto de conseguir o consentimento da amiga para sentar um pouco. Tudo corria bem até o momento em que, já quase no fim da festa, nossa heroína, percebendo a dificuldade de uma octogenária que queria se levantar para pegar um pouco de água mineral, se prontificou em servi-la. Mas quem disse que a Silcleide conseguia levantar-se da poltrona? Parecia que uma força, maior que a sua, a mantinha presa ali. Ela conseguia levantar até certa altura só para ser puxada violentamente para trás. Tentou uma; duas; três; várias vezes; mas não conseguiu se levantar. E, quanto mais ela tentava, mais aflita ficava, até o ponto em que pediu que alguém a socorresse. Uma das senhoras foi até a amiga da Silcleide, que foi rapidamente até o local do incidente. Ao perceber a luta da amiga para se livrar daquela poltrona ela, que deveria socorrê-la, começou a rir. - Para de rir e vem me socorrer, disse Silcleide ofendida. - Deixe de pisar na barra do vestido que você consegue se levantar, disse a amiga sorrindo.
Desde então Silcleide se nega a ir a qualquer festa, a não ser para servir, evidentemente. Mas a amiga dela tem um plano que...
Roberto Policiano
2 Comments:
Gostei da narrativa mas, curiosamente, não me "apaixonei" por Silcleide. Pareceu-me demasiado irreal, demasiado heróina de romance. Roberto, quem não gosta de colo? :)
Um abraço amigo.
Pois é, Ana. A Silcleide é teimosa. Acha que nasceu para servir. Embora incomum, existem muitas Silcleides que, depois de se desdobrarem em benefício de outros, ficam a se culpar por não ter feito mais! Conheço algumas que, se não são tão radicais como a do texto, chegam bem perto. Abraços!
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